CELSO SUCKOW DA FONSECA

Nasceu em 27 de julho de 1905, no Rio de janeiro. Filho do engenheiro Luís Carlos da Fonseca e Gilcka Suckow da Fonseca. Casou com Fani Bulhões de Carvalho da Fonseca.

Morreu em Detroit, Estados Unidos, em 26 de outubro de 1966.

Concluiu o Curso de Engenharia em 1927, na antiga Escola Politécnica do Rio de Janeiro.

Fez o Curso Superior de Locomoções do Centro Ferroviário de Ensino e Seleção Profissional de São Paulo, em 1939. Nesse mesmo ano, diplomou-se no Curso da Escola Superior de Guerra, tendo sua atenção voltada para a formação de mão-de-obra qualificada. Formou-se em Administração de Escolas Técnicas, no S~ College, Pensilvânia, Estados Unidos, em 1947-1948.

Sua carreira de engenheiro fundiu-se à de educador e historiador do ensino profissional e Técnico no Brasil. Amou como engenheiro da Fseah de Ferro Central do Brasil (EFCB) durante trinta e cinco anos, ocupando postos de carreira e exercendo a chefia de vários departamentos (posto mais elevado na Estrada), inclusive o de Ensino e Seleção, no exercício do qual organizou, instalou e pôs em funcionamento dez escolas profissionais, situadas nas cidades de Barra do Piraí, Três Rios, Santos Dumont, Lafaiete, Belo Horizonte, Sete Lagoas,Corinto, Cachoeira Paulista, Governador Valadares e Valença. Vice-Presidente por duas vezes da Associação de Engenheiros da EFCB e Presidente do Hospital Central dos Ferroviários, que ajudou a fundar, em 1956, foi comIssionado também pela EFCB para fiscalizar a fabricação, na Europa, de trilhos e acessorios de linha.

Foi professor por concurso de provas e títulos da Cadeira de Desenho Técnico, da Escola Técnica Nacional, de 1951 a 1960; membro do Conselho Técnico do Sindicato de Engenheiros, em 1962; do Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura, a partir de 1946, tendo sido reeleito cinco vezes até a sua morte; membro do Conselho de Administração do Programa de Expansão.do Ensino Tecnológico (Protec) por Decreto do Presidente da República, em 1964; fundador, coordenador e responsável pelo Curso de Engenharia de Operação na Escola Técnica Federal da Guanabara - em convênio com a Escola Nacional de Engenharia e a Fundação Ford. Dirigiu, por quatro vezes, a Escola Técnica Federal, que hoje ostenta seu nome: a primeira de 1943 a 1951, quando, depois de extinta a antiga Escola Normal de Artes e ofícios Wenceslau Brás e demolidas as suas construções originais com a Reforma Capanema, implantou-se a Lei Orgânica do Ensino Industrial (Decreto-Lei  4.073 de 30/ 1/1942), e aquela Escola reabriu em novas instalações, com o nome de Escola Técnica Federal. A sua segunda gestão foi por eleição do Corpo Docente da Escola em 1960; a terceira, no período de 1963 a 1966, pelos membros do Conselho de Representantes, e, finalmente, reeleito pelo mesmo Conselho para o período de 1966 a 1969, com mandato interrompido pelo seu falecimento em 1966, quando vlajava pelos Estados unidos em missão profissional, a convite da Fundação Ford. Em 13 de março de 1967 (Decreto-Lei 181, de 17/2/1967), a Escola Técnica Federal recebeu o nome de Escola Técnica Federal Celso Suckow da Fonseca, atual Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet), conforme a Lei 6.545, de 30/ 6/1978.

Foram-lhe outorgados os seguintes títulos honoríficos: Diploma de Serviços Relevantes Prestados ao País e Diploma de Amigos dos Livros, dados pela Associação Brasileira do Livro, em 1964; Medalha do Mérito de Engenharia e Arquitetura; Medalha Marechal Hermes, conferida pelo Exército; Medalha Anchieta, conferida pela Secretaria-Geral de Educação e Cultura da antiga Prefeitura do Distrito Federal; Crachá da Escola Superior de Guerra, Grau de Oficial post mortem da Ordem Nacional do Mérito Educativo, conferido pelo Ministério de Educação e Cultura, em 1993 Celso Suckow da Fonseca fez parte de um tempo em que um grupo pioneiro de engenheiros, como Francisco Montojos, João Luderitz, Ítalo Bologna, Roberto Mange, atuando nas estradas de ferro, nas indústrias e nas escolas proflssionais e técnicas, viam a preparação de mãode-obra qualificada para a indústria como uma questão prioritária do ponto de vista econômico e educacional. O quadro político-econômico principal da sua atuação, em um primeiro momento, foi a industrialização do eixo São Paulo-Rio de Janeiro, promovida pelo Governo Vargas, no Governo Provisório iniciado com a Revolução de 1930 e, depois, com a ditadura do Estado Novo e a inserção do Brasil na Segunda Guerra Mundial. Em um segundo momento, sem que este ramo do ensino sofresse solução de contínuidade, ao contrário, adaptando-se e expandindo-se de acordo com as políticas governamentais, implantou-se a política de desenvolvimento econômico do Governo Kubitscheck e a expansão capitalista, intensifícada pela internacionalização da economia, iniciada com a Ditadura Militar, a partir de 1964.

A obra desses engenheiros-educadores, ativos construtores de uma nacionalidade que se pretendia racional, civilizada e industrial, conviveu com a ambiguidade de uma cultura técnica supostamente neutra, isenta de elementos políticos-ideológicos. Integrou-se à ruptura ocorrida no sistema democrático representativo e ao privilégio das políticas de preparação de mão de obra para a indústria, a agroindústria, a ciência e a tecnologia, tendo o autoritarismo e a repressão política como pano de fundo para toda a sociedade. Ainda do ponto de vista político, não obstante o interesse das suas iniciativas para os fins a que se destinavam - a necessária preparação de mão de obra, a sua política passou ao largo das necessidades educativas da grande massa de trabalhadores analfabetos, do baixo nível de escolaridade da população e das novas condições de vida e de trabalho. 

Alguns artigos publicados por Suckow relacionaram-se à sua prática como Diretor da cola Técnica. Embora participante da primeira turma de professores que fez o Curso de Administração de Escolas Técnicas nos Estados Unidos (1947-1948), ele não se deteve na análise dos teóricos da educação americana. Teve sempre como referência a sua prática como administrador escolar. Segundo o autor, os conceitos de orientação vocacional e de orientação profissional eram fáceis de definir e difíceis de realizar (Fonseca, 1948, p.34). Propondo uma filosofia da disciplina, procurou, em primeiro lugar, defini-la, criticá-la e estabelecer conclusões; em segundo lugar, estabeleceu métodos de  aplicação, isto é, o modo pelo qual podiam ser utilizadas as noções de disciplina. A disciplina seria a base da ordem, e, sem ordem, não haveria progresso - transparecia a filosofia positivista que foi um dos fundamentos do ensino profissional e técnico no País. No entanto, era fundamental que o educador inspirasse respeito e afeto nos educandos (Fonseca, 1948, p. 82). Como bom administrador, preocupava-se com os baixos salários dos professores, principalmente os das oficinas da Escola Técnica Nacional, e com a concorrência das indústrias, da própria Prefeitura Municipal e do Colégio Pedro II (Fonseca, 1947-1948).

 

Celso Suckow da Fonseca publicou a sua obra de maior vulto, A história do ensino industrial no Brasil, em dois volumes, respectivamente, em 1961 e em 1962, pela Escola Técnica Federal. O trabalho recebeu uma segunda publicação em cinco volumes, em 1986, pelo Senai. Além de apresentar um registro da evolução histórica do ensino industrial, abordou a sua filosofia, identificando exemplos do ensino técnico em várias épocas, desde a Antigüidade. O objetivo do autor foi estabelecer relações entre a aprendizagem de ofícios e os processos de educação, mais especificamente, entre o ensino técnico e o ensino intelectual.

Suckow identificou duas etapas da história da transmissão dos conhecimentos proflssionais: o período anterior ao século XVI, quando a transntissão dos conhecimentos profissionais  situava-se fora das escolas, estando as profissões manuais e os estudos intelectuais desvinculados; e, a partir dos séculos XVI e XVII, quando surgiram iniciativas de unir as ope~ rações manuais de ensino ao aprendizado intelectual.

 

0 Primeiro volume cobriu as iniciativas educacionais desde o Descobrimento: o ensino de ofícios a índios e escravos, os antigos centros de aprendizagem e os Arsenais de Marlnha, as açôes assistenciais do Governo Imperial através da preparação para o trabalho de órfãos e desvalidos e as primeiras providências da República, sendo a mais importante delas a criação da rede das Escolas de Aprendizes Artífices pelo Presidente Nilo Peçanha,

O segundo volume tratou das conseqüências da Lei Orgânica para o Ensino Industrial, da extinção da rede das antigas escolas de aprendizes artífices, do acordo entre o Brasil e os Estados Unidos, do qual resultou a Comissão Brasileiro-Americana de Educação Industrial (CBAI), com um extenso programa de cooperação (1946 a 1961 ) e as novas bases de organização do ensino industrial a partir do modelo implantado na Escola Técnica Nacional. O autor retomou ainda o histórico da aprendizagem de ofícios nos Arsenais do Exército, desde o Império, e da Marinha, a partir da Colônia, bem como a organização das Companhias de Aprendizes Menores e de Operários Militares. Outra imbricação importante do Estado à economia nacional e à preparação para o trabalho foi a ação das ferrovias do eixo São Paulo-Rio, suas experiências de ensino, seleção e orientação profissional, assim como a criação de escolas em cooperação com o Senai, também criado em 1942 e dirigido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

O terceiro volume retomou os temas do Senai e da CBAI, recuperou seus métodos de ensino, a formação de professores mais adequada às necessidades das escolas industriais, o trabalho de crianças e a introdução do trabalho na educação. Por último, buscou analisar o ensino de ofícios na perspectiva de uma formação humana, social e econômica, considerando a sua capacidade de influenciar a harmonia social do País, a miscigenação das classes, o equilíbrio das massas e uma melhor compreensão na sociedade. Defendeu não somente a instrução profissional, mas a educação no seu sentido mais amplo, como elemento de aproximação entre as classes e as recomendou aos governos verdadeiramente democráticos.

Os volumes 4 e 5 trataram, especificamente, em cada Estado do Brasil, do ensino de ofícios, desde a sua origem até o ano de 1960, com as principais transformações aí registradas. 

Como alerta, no início de seu trabalho, Suckow buscou narrar a história do ensino industrial de maneira metódica e de acordo com a documentação existente. Sendo ele próprio um dos atores mais importantes desse processo, estando no centro dos acontecimentos na sua fase mais dinâmica, a partir dos anos 30, o autor revelou notável domínio das informações, expondo a sua visão dos fatos de forma direta e clara. Como explicou, o trabalho produto de uma pesquisa de mais de dez anos, após um sem número de consultas à Biblioteca Nacional, à ex-Biblioteca Municipal, ao Arquivo Nacional, à Biblioteca da Câmara dos Deputados, a Ministérios, à extinta Câmara dos Vereadores do antigo Distrito Federal, assim como às Câmaras, Secretarias de Educação, autoridades educacionais civis e militares dos estados, visitas às escolas, cartas de pedidos de esclarecimentos, entrevistas com antigos professores e dirigentes, leitura de relatórios e de material bibliográfico. Além de cuidadosa cronologia ao final de cada capítulo, a obra traz, em anexo, a transcrição de muitas leis, decretos, regulamentos, regimentos, instruções e gráficos com dados estatísticos.

Seu trabalho pode ser situado  dentro do paradigma da história tradicional, segundo o qual a história diz respeito, essencialmente, à política; é uma narrativa de acontecimentos; oferece uma visão de cima, concentrada na ação dos grandes homens; baseia-se em documentos, entendidos como registros oficiais, emanados do Governo e preservados em artigos; apóia-se em um modelo de explicação causal; é objetivo, sendo tarefa do historiador apresentar aos leitores os fatos, dizer “como eles realmente aconteceram” (Burke, 1992, p. 7-37). Não obstante os limites dessa visão historiográfica, a sua obra representa um notável esforço de registro da memória histórica da origem e da evolução do ensino industrial. A sua leitura é imprescindível para os que se dedicam ao tema.

Remetendo ao contexto nacional, Suckow aplicou seu modelo de história ao período colonial, em busca de um quadro do ensino técnico. Passando pelos colonizadores portugueses e pelos jesuítas, o autor delineou uma história do ensino técnico, em que não há método nem orientação prévia. O autor identificou como tipo de cultura dessa época aquela voltada para a “especulação intelectual e para o amor às letras (cultura humanística), responsável pela difusão de uma filosofia de desprezo pelo ensino de ofícios. Esta vsão negativa do trabalho manual foi criticada pelo autor, que a considerava responsável pelo atraso do País e que perdurou até a época republicana.

Celso Suckow criticou a “solução aristocrática do Império”, que procurou resolver o problema da instruçao através da formação de uma elite economicamente elevada, em rude contraste com a grande massa de analfabetos.  

Esse projeto terla contribuído para dar força ao secular desprezo pelo trabalho executado com as mãos e, conseqüentemente, pelo ensino que a ele fosse destinado. Lembrou que, durante o Império, a aprendizagem profissional se realizara nos asilos, orfanatos e arsenais, assim como nas Casas de Educandos Artífices, destinadas aos deserdados da fortuna. Foi nesse tipo de estabelecimento que o ensino de ofícios se uniu às matérias de cultura geral, entrando para o conjunto da instrução como uma atividade vergonhosa. Por muito tempo, os relatórios das Provincias não incluíam o ensino de offcios, que era considerado de ordem assistencial e não educacionai; ao ser incluído na instrução pública, situou-se no grau elementar, abaixo do primário, como uma atividade deprimente e desmoralizante. A abolição da escravatura e o aparecimento do trabalhador livre teriam contribuído para a emergência de uma nova filosofia do ensino profissional, favorecendo o trabalho manual e as atividades próprias da indústria. O Liceu de Artes e Oticios do Rio de Janeiro, em 1858, depois disseminado na República por todos os Estados, em 1909, apesar de ainda estar preso às antigas fórmulas assistenclais, teria aberto caminho para um novo modo de encarar essa forma de ensino como necessária à indústria (Fonseca, v. 3, 1986, p. 187-91). A transformação dos liceus já no final dos anos 10 e, depois, a partir do Início das atividades da Escola Técnica Nacional em 1943, tendo Suckow como seu primeiro Diretor, colocou a sua pedagogia e organização com base no trabalho industrial como modelo para a rede de escolas em todo o País. Engenheiro e homem de ação, a sua vida e a sua obra educacional foram marcadas profundamente pela valorização do trabalho e do ensino para o desenvolvimento industrial.

Entre os trabalhos publicados pelo educador, destacam-se: Fonseca, Celso Suckow da. História do ensino industrial no Brasil. Rio de Janeiro: Senai, Departamento Nacional, Divisão de Pesquisas, Estudos e Avaliação, 1986.

5 v. (I. ed., 1961/1962, 2 v., publicados pela Escola Técnica Federal Celso Suckow da Fonseca, Rio de Janeiro).  _______Orientação educacional e orientação profissional. Boletim da CBAI, Rio de Janeiro, v. II, n. 3, p.

34-36, mar. 1948.  ________    Disciplina escolar. Boletim da CBAI, Rio de Janeiro, v. lI, n.6, p. 82-84, jun. 1948.  _______  Exposição de trabalhos dos alunos da Escola Técnica Nacional. Boletim da CBAI, Rio de Janeiro, v.

lI, n. 1, p. 9-10, jan. 1947.  _________  Introdução. Relatório. Escola Técnica Nacional. Rio de Janeiro: MEC. Diretoria do Ensino Industrial, 1947-1948.

REFERÊNClAS BIBLIOGRÁFICAS:

BURKE, Peter (org.). A escrita da história: novas perspectivas. São Panlo: Unesp, Centro Federai de Ensino Técnico (Cfet), 1992. Celso Suckow da Fonseca. Homenagem da Escola a seu Patrono. Rio de Janeiro: Cefet, 1967. DIAS, Demosthenes de Oliveira. Estudo documentário e histórico sobre a

Escola Técnica Federal Celso Suckow da Fonseca”. Rio de Janeiro: Cefet, 1980. FONSECA, Celso S. da. História do ensino industrial no Brasil. Rio de Janeiro: Senai/DN, 1986. 5v. 

Além dessas fontes, procurou-se para obtenção de outros dados: Biblioteca Nacional, Arquivo do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), Núcleo de Estudos, Documentação e Dados sobre Trabalho e Educação (Neddate) do       

Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal Fluminense (UFF), documentos do acervo pessoal de Luiz Carlos Bulhões Carvalho da Fonseca; CARLOS, Lasinha Luís. Celso: um homem. Moral e cívica -problemas brasileiros, Escola Técnica Federal Celso Suckow da Fonseca. Rio de Janeiro, v. lI, n. 4, p. 6-7, 1972. CENTRO FEDERAL DE ENSINO TÉCNCO (Cefet). Celso Suckow da Fonseca. Homenagem da Escola a seu Patrono. Rio de Janeiro: Cefet, 1967. ESCOLA TÉCNICA FEDERAL CELSO SUCKOW DA FONSECA. Este nos deu o exemplo. Moral e cívica - Problemas brasileiros, Rio de Janeiro. v.II, n.4, p. 5-6, 1972; CEFET. Um pouco de nossa história. Informativo, Rio de Janeiro: Cefet Informativo I, n.2, p.2, jun.de 1983.

MARIA ClAVATTA FRANCO E REBECA GONTIJ0 



http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/rbhe/article/view/38722


https://pt.scribd.com/document/327224020/FONSECA-Celso-Suckow-Historia-do-Ensino-Industrial-no-Brasil-pdf